sábado, 23 de outubro de 2010

Será que os dados do passado não valem nada ?

Quem estuda o clima, sabe que para compreendê-lo temos que analisar tanto a situação atual, quanto do passado, para saber qual o seu comportamento ao longo de anos ou séculos. No momento temos alto avanço tecnológico, que auxilia em medições mais precisas e com maior abrangência comparadas ao início do século passado.
Porém isso não quer dizer que todos os dados do passado, são imprecisos e desprezíveis. Tanto é verdade, que a ignorância é a mãe de todos os males. Evidente que na época de 1800, 1900, os aparelhos não tinham tanta qualidade, porém aqui no Brasil era salutar a medição minuciosa, e de excelente qualidade em observatórios como do Rio de Janeiro, Curitiba e São Paulo, onde tinham um zelo impressionante com a qualidade dos dados, tanto é, que faziam cálculos até pra lá de complicados para saber a posição dos termômetros e pluviômetros, para evitar distorções, e isso faziam com uma dedicação tão expressiva, que mediam as temperaturas, por exemplo, tanto na sombra, quanto no sol, e daí ressaltavam a diferença entre elas, coisas que na situação atual nem o INMET faz.
Outra coisa os termômetros no mundo velho, continente europeu começou em 1622, e daí em diante foram aperfeiçoando a qualidade do instrumento, e lá pra meados de 1800 e 1900, ou seja duzentos, trezentos anos à frente já haviam vários tipos de termômetros existentes, com medições mais precisas, e que traziam aqui para o Brasil para uso profissional, portanto não era material fajuto ou obsoleto a ponto de não servir pra nada como alguns pensam. Aí podem dizer, mas não respeitavam regras como altura e posição do termômetro como atualmente, eu digo uma coisa, eu pesquiso muito,e por vários livros e documentos, vi como eram dedicados e audaciosos. Faziam cálculos milimétricos que traziam de regiões européias, e se preocupavam em colocar com exatidão os instrumentos em local e posição correta, para se evitar erros. No observatório do Rio de Janeiro, por exemplo, as medições regulares datam de 1820, 1830, e seguindo uma série completa a partir de 1850, onde tinham uma qualidade impressionante nos dados, quem duvidar, analise bem os materais publicados pelo observatório do Rio, e vejam como eram salutar as medições, e não tinha nem um erro absurdo, como se vê hoje em estações como na Praça Mauá e em várias estações do INMET, que possuem distorções absurdas.
Não quero dizer, que não existiam alguma falha ou erro nas medições, há cem ou duzentos atrás, é evidente que sim, agora generalizar que todos os dados daquela não são confiáveis e não servem pra nada, aí é demais, pois com algumas ressalvas dá pra comparar tranquilo dados atuais com daquela época. Comparar com Sísífo, como os colegas Fernando José e Luís, no site da Climatempo, me soa um exagero, e dá impressão que os dados daquela época não valem nada, o que me deixa indignado, pois até concordo que medições amadoras naquela época não devem ser levadas em conta, mas de observatórios e centros meteorológicos pode sim fazer comparações com os atual, respeitando certas oscilações. Aliás eu que acompanho e pesquiso profundamente climatologia e meteorologia, vejo que atualmente eu encontro distorções em alguns locais, certas vezes piores que em tempos passados. 

Aos colegas e amigos aqui do blog, deixem suas opiniões sobre isso, concordando ou discordando, ok!

15 comentários:

  1. Disse tudo Carlos Alberto, não tem o que por nem tirar, os dados antigos, possuem sim sua relêvancia e sua qualidade, obtidos com a dedicação de homens que fizeram o que podiam para melhorar a meteorologia e hoje esses dados podem nos revelar coisas sobre o clima de nossas cidades, eu vi a discussão no site da climatempo e aquela discussão também foi bem carregada de bairrismo, só disseram que não servia para nada, pois não qeriam aceitar de jeito algum o que os dados mostravam então tentavam se esquivar de todas as formas.

    O que eu noto nas pessoas é o seguinte, elas se sentem superiores por viverem no presente e acham que superaram os antigos em tudo, como se isso fizesse delas pessoas melhores e não é apenas na meteorologia que vejo isso.

    À um tempo atrás estive pesquisando sobre as técnologias presentes no antigo Egito, na Grécia antiga, em civilizações indígenas como os Maias, Astecas, etc e descobri coisas impressionantes, sabia que os gregos já haviam inventado a 3 mil anos atrás o motor a vapor? Isso me fez pensar no que nós realmente evoluimos cientificamente em relação aos antigos e acho que além da eletricidade e do computador, quase nada e ainda há muito ciência perdida no passado.

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  2. Concordo em gênero, número e grau. As medições sempre foram feitas nos padrões, e caso não foram há especificação sobre isso. Na boa, quem acha que dados antigos não valem nada é um tremendo ignorante.

    Se for assim, porque estudamos tanta história na escola?

    É só parar para pensar.

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  3. Quando eu cursava Química, no Inst. Química da USP, lá existia uma oficina de reparo de vidrarias e confecção de aparelhagens especiais de vidro para teses de doutoramento, etc. Havia um vidreiro, um senhor já de idade, que se estiver vivo certamente já passou dos 90 anos, que fazia coisas impossíveis. Era um artesão. Uma vez o vi enrolando um tubo capilar finíssimo, de vidro, mais fino que esses que se usam em termômetros, em torno de outro mais grosso, com uma precisão impressionante, apenas com auxílio do maçarico. Os funcionários das fábricas alemãs, francesas, inglesas, etc, que produziam termômetros há 100 anos ou mais, eram artesãos iguais ou melhores. Portanto, a confiabilidade daqueles instrumentos era boa sim e, além disso, não havia essa pressão atual por prazos e redução de custos, o que faz com que muita coisa feita hoje, em várias áreas, seja literalmente uma porcaria. Mudando para outra área, eu guardo como relíquia, um mapa do estado de São Paulo editado em 1964 pelo Inst. Geográfico e Geológico de S. Paulo, na época em que os originais ainda eram desenhados à mão. É uma coisa fabulosa a riqueza de detalhes, consta até rios pequenos de Sampa como o Aricanduva, Cabuçu de Cima, etc (Repito, é um mapa do Estado) e a minúcia com que foram desenhadas as divisões minicipais, as curvas dos rios etc. Um mapa atual não tem nem a metade dessas informações. Eu fiz um resumo das médias 1931-1960 para várias cidades pegando dados publicados aqui no seu blog. Realmente a diferença das médias das mínimas entre Porto Alegre e Sampa em julho, nessa época, não era grande. Porém, nem comentei isso no site da Climatempo para não por mais lenha na fogueira daquela discussão inútil. Um abraço.

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  4. No Rio de janeiro, final do século 19, as medições eram infinitamente melhores no observatório principal, com a Praça Mauá as medições voltaram no tempo, no pior sentido do termo, em pleno século 21 as mais arcaicas medições realizadas no Brasil.

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  5. Concordo plenamente. Ou no futuro tb ñ levarão em conta nossos dados por ser a tecnologia superior...

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  6. Boa noite a todos. Fui pesquisador da área de climatologia durante 5 anos e tive a oportunidade de trabalhar com os dados do Inmet. Sei que será polêmico o que irei dizer, mas depois de muito pesquisar cheguei à conclusão de que é praticamente inútil tentar comparar dados meteorológicos antigos com os atuais. O motivo não é a qualidade dos dados antigos ou a precisão dos instrumentos, mas sim o fato de que durante os últimos 100 anos, diferentes METODOLOGIAS foram usadas para a geração de dados meteorológicos. O maior exemplo está no cálculo da TEMPERATURA MÉDIA. Entre 1910 e 1937 o cálculo era feito usando a seguinte fórmula: T7+T14+2X(T21)/DIVIDIDO POR 4.
    Entre 1938 e hoje passamos a fazer o cálculo usando a fórmula: T9+2X(T21)+Tmáx+Tmín/DIVIDIDO POR 5. Obs:Horário local, sem considerar o horário de verão.
    O problema está no fato de que estas fórmulas levam a RESULTADOS DIFERENTES. Para ilustrar, calculei a temperatura média diária na cidade de Nova Friburgo, durante a primeira semana de agosto deste ano, usando as 2 fórmulas. O resultado:

    Fórmula Antiga / Atual

    Dia 1: 15,9º / 16,2º
    Dia 2: 16,5º / 16,6º
    Dia 3: 14,8º / 15,8º
    Dia 4: 14,8º / 15,1º
    Dia 5: 15,1º / 14,9º
    Dia 6: 14,2º / 14,9º
    Dia 7: 13,3º / 13,9º
    Semana: 14,9º / 15,3º

    Ou seja: O cálculo atual gerou uma média 0,4º superior ao cálculo antigo. Isto em 7 dias. Imagine em um ano todo. Por isso, sou contra comparações de séries... A discrepância pode parecer pequena, mas induz ao erro com facilidade.

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  7. Bem, tudo isso é verdade, mas ir na fonte dos dados pode tornar possíveis as comparações, por exemplo: se em 1885 eram 3 observações por dia em horários conhecidos e em 2010 o dado é tomado 24 horas por dia, para fins de conhecer qual foi a tendência de temperatura entre 1885 e 2010 é melhor calcular a média apenas utilizando as observações no mesmo horário, já caso o objetivo seja conhecer a média mais exata possível (o maior número de observações) existem equações de ajuste que podem estimar com aceitável grau de exatidão a diferença média entre uma média dos 3 horários definidos e a média de 24 horas, por exemplo (quanto maior for a série de dados, menor o erro). Na Europa existe um projeto de climatologia que recupera médias mensais desde o século 18 nas estações principais com confiabilidade alta, mesmo que nos primeiros anos o número de observações e até o metodo de medição fosse diferente, a comparação pode ser feita sem maiores prejuízos após homogeneização, ainda que seja impossível eliminar toda a incerteza. Outra coisa certa: a melhor maneira de calcular uma média é utilizando o maior número de dados que for possível, o que aproxima a média da realidade. A média simples pode ser muito grosseira, mas ainda é utilizada em alguns paíeses, talvez por facilitar a comparação com outros dados, no caso os das estações onde o método de calculo das médias ou horário das medições não é conhecido para todos os anos de observações. Claro que um cenario ideal onde o amibente ao redor da estação quase não muda ao longo dos anos raramente é alcançado em qualquer lugar do mundo por motivos óbvios. No Brasil, uma das melhores fontes para estudo do clima é a estação da USP/IAG, desde 1933 média calculada pelo mesmo método e foi pequena a alteração no ambiente imediatamete ao redor do cercado onde se encontram os instrumentos, pequena em comparação com as estações do Inmet, onde até uma mudança de endereço da estação pode ser omitida. E esta estação (USP) mostra um aumento acentuado de quase 2 graus na média, cujas causas vão além do aquecimento do planeta (alguns décimos de grau), o próprio crescimento das cidades da RMSP afeta, em maior ou menor grau, uma área muito maior que as regiões urbanas centrais, ou seja, alguma influência da ilha de calor (ainda que muito atenuada), não só chega até como vai além dos cinturões verdes que restam nas Regiões Metropolitanas.

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  8. O aumento de cerca de 2°C na temperatura média da estação do IAG (Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP), de 1933 a 2009, mencionado pelo colega acima, é comentado no Boletim Climatológico - 2009, daquela instituição, Item 4, pgs. 15 a 21, que pode ser lido e baixado no endereço: www.estacao.iag.usp.br/Boletins/2009.pdf.

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  9. Resposta ao penúltimo comentário: ainda que esta técnica fosse usada não iremos obter sucesso por um simples motivo: as estações do Inmet e de outros órgãos mudam de lugar constantemente e com isso toda comparação se torna em vão. Se a gente pegar os dados do Observatório Nacional em 1885 e usar dados de uma estação automática obtidos nas mesmas horas hoje em dia, e tentarmos traçar comparações, cairemos em erro, uma vez que, a temperatura e a precipitação são elementos extremamente caóticos, variando incrivelmente em distâncias mínimas. Em dias secos a temperatura pode variar quase 1° em tão somente 100 metros. Logo, estações posicionadas em locais diferentes, mesmo que próximos, terão características e resultados de observação significativamente diferentes, tornando nulas as comparações. Essa dança de localização inviabiliza até mesmo a comparação de extremos. Em Curitiba, por exemplo, a estação mudou de lugar mais de 4 vezes desde sua abertura. Entre 1931 e 1960 quase não houve mínimas inferiores a -4°C nesta estação, mas na década de 70, com a mudança da estação para uma posição de baixada, houve uma sequencia de picos menores que -5°. Houve -5,2°C em 1970, -5,4°C em 2 de SETEMBRO de 1972 e -5,1°C em julho de 1975, só para citar algumas. Na hora de se procurar a última vez que deu por exemplo -5°C na cidade, chegaremos a estes valores, mas será que no ponto onde a estação está hoje, foi exatamente na data encontrada que ocorreu o último recorde?
    Outro agravante é o fator urbanização, que tem reflexos importantes nas temperaturas ao redor e dentro das cidades. Em que ponto o aquecimento está realmente?

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  10. Eidente que até na Europa, onde estão os dados mais antigos, não são muitas estações onde a estação ficou no memso lugar continuamente em 120 anos ou número parecido, e ainda que a estação esteja no mesmo ponto a paisagem vai ter sido alterada, por isso os dados pode ser ajustados, exatamente o que eu disse no dia 27, mas o ajuste não serve para comparar o valor absoluto das médias em décimos de grau (fica uma margem de erro) mas para mostrar uma possível tendêcia, e o método pode ser ou não representativo dependendo do caso, o exemplo de 1885/2010 era para uma estação genérica. Em alguns lugares longas séries foram homogeneizadas, a maior no centro da Inglaterra teve início no final do séc XVII.

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  11. Anteriormente, quis dizer que não são muitas cidades onde a estação...

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  12. O que eu disse a respeito de homogeneização é para médias, no caso dos extremos é muito mais difícl de fazer, dependendo do caso simplesmente impossível, uma pequna mudança de endereço pode afetar bem mais o extremo dependendo do relevo.

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  13. Resposta aos comentários acima: Particularmente não acredito nas fórmulas e técnicas de homogeneização de dados, pois como já disse anteriomente, as fórmulas com esta finalidade foram criadas baseando-se em observações de poucos locais específicos, e tiveram seus resultados e conclusões ampliadas para áreas muito além da área de análise. Não podemos usar, por exemplo, uma técnica de homogeneização de um clima europeu e aplicar no comportamento de um clima tropical...
    Os décimos de grau que acabam ficando de lado nestas homogeneizações são o que na realidade nos permite verificar recordes e tendências, pois em se tratando de médias , 0,5ºC podem significar muita coisa.
    O uso destas fórmulas acaba é trazendo muitos erros, pois o uso das mesmas, leva nem sempre à consistência dos dados, mas sim à inconsistência. Já vi por exemplo, 106 mm virarem 16 mm depois do uso de fórmulas como esta. Ou seja, um dado verídico foi invalidado por fugir muito ao estabelecido na fórmula. E assim há muitos casos. Cada um conclua. Abraços.

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  14. E falando em discussão da climatempo, aquele tal de luiz de Porto Alegre, vai começar com aquela besteira de novo, mas eu não volto a escrever naquele lugar, e depois o sísifo era eu. Tem muita gente ignorante frequentando aquilo ali.

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  15. Com certeza, mas dados como o da estação meteorológica de Recife são muito desconsideráveis, pois segundo os dados dela, a mínima na cidade foi de 17,1 e a máxima de 35,1, é inacreditável!! Com certeza estão equivocados.

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