quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Dias 27 e 28 de março de 2004 - Furacão Catarina: O primeiro furacão registrado na América do Sul






FURACÃO CATARINA

29/mar/2004 - 12h56 - Cientistas americanos, especializados em análise e previsão de fenômenos severos não tem mais dúvidas e afirmam que o ciclone extratropical Catarina, que atingiu a Região Sul do país era de fato um furacão categoria 1, na escala Saffir-Simpson, que mede a intensidade dos ventos dos furacões. Isso faz de Catarina o primeiro furacão extratropical conhecido e também o primeiro a atingir o Brasil.

Furacão Catarina é um dos vários nomes informais para um ciclone tropical do Atlântico Sul que atingiu a região sul do Brasil no final de março de 2004. A tempestade se desenvolveu a partir de um ciclone extratropical de núcleo-frio praticamente estacionário em 12 de março. Quase uma semana depois, no dia 19 de março, a perturbação remanescente seguiu para leste-sudeste, mas em 22 de março, a formação de uma crista de alta pressão deixou o sistema quase estacionário novamente. A perturbação estava numa região com excelentes condições meteorológicas, com baixo cisalhamento do vento e com a temperatura da superfície do mar acima da média. A combinação dos dois levou a uma lenta transição do sistema de um ciclone extratropical para um ciclone subtropical em 24 de março. A tempestade continuou a obter características tropicais e se tornou uma tempestade tropical no dia seguinte, enquanto os ventos se intensificavam gradativamente. A tempestade atingiu ventos máximos sustentados (1 minuto sustentado) de 120 km/h, equivalente a categoria 1 na escala de furacões de Saffir-Simpson, em 26 de março. Neste o ciclone ganhou informalmente o nome "Catarina" e também foi o primeiro ciclone tropical a ser registrado oficialmente no Atlântico Sul. As condições excepcionalmente favoráveis, extremamente incomuns no Atlântico Sul, persistiram e continuaram, e Catarina continuou a se intensificar, atingido o seu pico de intensidade, com ventos extraoficialmente de até 155 km/h em 28 de março. A tempestade atingiu a costa mais tarde naquele dia na altura da cidade de Torres, Rio Grande do Sul. Catarina se enfraqueceu rapidamente sobre terra firme e dissipou-se no dia seguinte.
Por Catarina ter se formado numa região que nunca, de acordo com registros fiáveis, tinha registrado a presença de ciclones tropicais antes, os danos foram completamente severos. Apesar de ser um evento meteorológico sem precedentes, as autoridades brasileiras tomaram as devidas ações e alertaram a população para a chegada da tempestade. A população acatou os alertas e avisos e deixaram suas residências ou decidiram enfrentar a tempestade seguros em suas casas. Catarina destruiu cerca de 1.500 residências e danificou outras 40.000. Os prejuízos econômicos foram grandes, especialmente na agricultura de banana, onde 85% da produção foram perdidos, e de arroz, onde 40% das plantações foram perdidos. Apesar da inexistência de uma estrutura de alertas e avisos de ciclones tropicais, apenas três pessoas morreram e outras 75 ficaram feridas devido aos efeitos de Catarina no Brasil, número considerado bastante baixo em comparação a outros países afetados por ciclones tropicais. O prejuízos econômicos causados por Catarina chegaram a 350 milhões de dólares americanos.

                             Classificação da intensidade do Furacão Catarina


Segundo Martins et al. (2004), a velocidade do vento e a pressão atmosférica oficialmente
medida foi de 146,7 km/h e 993 hPa, respectivamente, em uma estação meteorológica localizada
no município de Siderópolis. Os autores também apresentam outras medições realizadas em
Torres (RS), Laguna (SC), entre outras. Entretanto, ressalta-se que a estação de Siderópolis está
distante cerca de 50 km do local de maior impacto, ou seja, do local de passagem do olho (Figura
3). Nas entrevistas com os moradores da região, houve unanimidade em relação à não passagem
do mesmo sobre Torres e Siderópolis, onde estão as estações mais próximas da área de maior
impacto. Coch (1994) afirma que a velocidade dos ventos e os danos mais intensos sempre estão
associados à passagem e a proximidade do olho, além do que as pressões mais baixas são
registradas no interior do mesmo. Esta mesma observação é feita por Walton (1976), que
também menciona que a aproximadamente 25 km do olho ocorre normalmente uma queda
acentuada da velocidade do vento. Além disso, esta diminuição dos ventos na área de estudo
pôde ser confirmada pelo número de edificações danificadas e destruídas.
De acordo com a escala Saffir-Simpson, que é utilizada pela NOAA (
Atmospheric Administration
dos ventos, os danos referentes à classe 1 (ventos de 119 a 153 km/h), correspondem aos
destelhamentos, árvores derrubadas e galhos quebrados. Estas foram às características da classe
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Baixa do Mapa de Intensidade (Tabela 1), onde está instalada a estação de Siderópolis.
Entretanto, a intensidade dos ventos no litoral foi radicalmente diferente desta que foi mensurada
próximo aos paredões da Serra Geral. Por exemplo, enquanto no litoral milhares de casas foram
danificadas e destruídas, no município de Siderópolis houve somente 50 casas danificadas e 1
destruída (Figura 13). Dias et al. (2004) comenta que devido à intensidade dos danos do litoral os
ventos podem ter atingido 50 m/s, que equivale a aproximadamente 178 km/h. Segundo Calearo
et al. (2004), esta intensidade dos ventos também foi registrada por um barco pesqueiro no dia
27/03/04 a cerca de 100 km da costa (29,30ºS e 49,30ºN). Neste dia, as 23:40 h, quando os
ventos mais intensos começavam a atingir a costa, em alto mar foram registradas rajadas com
Força 14, que podem chegar a 178 km/h.
Desta forma, na classe 2 da escala Saffir-Simpson, com ventos que variam de 154 a 177 km/h, os
principais danos observados são: grandes árvores tombadas, danos estruturais em telhados, casas
de madeira destruídas e presença de muitos projéteis (SIMPSON, 1974; COCH, 1994; FEMA,
2000). Estes danos foram amplamente observados na área de maior impacto que corresponde aos
municípios de Bal. Arroio do Silva, Bal. Gaivota, Passo de Torres, São João do Sul, Santa Rosa
do Sul e Sombrio. Outro exemplo que confirma tais observações foram os danos verificados nas
estufas de fumo. Em Bal. Arroio do Silva este tipo de edificação foi completamente destruída. Já
em Siderópolis foram identificados somente alguns destelhamentos. Isto também vem confirmar
que a intensidade do vento em Bal. Arroio do Silva foi bem superior ao medido em Siderópolis,
o que indica que a intensidade do fenômeno pode ser classificada como de classe 2. Além do
que, as características da classe 2 da escala Saffir-Simpson são extremamente similares ao da
classe Muito Alta do Mapa de Intensidade (Tabela 1). Assim, com base nos dados e informações
levantadas, o Furacão Catarina foi classificado como classe 2 devido a grande quantidade de
edificações danificadas e destruídas, que confirmam que a velocidade dos ventos podem ter
atingido aproximadamente 180 km/h conforme estimada “in loco”.


Federal Emergency Management Agency) e da Cruz VermelhaAmerican Red Cross), sendo traduzidas e adaptadas às condições geográficas
Monitoramento 'in loco'


No entardecer de sábado (27/03/04), às 17:45 h, a equipe chegou em Bal. Arroio do Silva. No
trajeto para este município também foram feitas observações nos municípios de Palhoça,
Garopaba, Imbituba, Laguna e Jaguaruna.
Em virtude dos alertas emitidos pela Defesa Civil, uma boa parte da população de Bal. Arroio do
Silva já havia saído do município. Este processo foi chamado de evacuação voluntária, visto que a
população era instruída, através de alertas, a visitar parentes e amigos localizados nas áreas
adjacentes ao provável local de impacto do Catarina. Estes alertas também forneciam informações
passadas sobre o que fazer antes, durante e depois da passagem de um furacão. As informações
foram obtidas nos sites da FEMA (
Americana (
catarinense pelos membros da equipe GEDN. Mesmo assim, muitos moradores foram à praia
almejando visualizar a nuvem funil, confundindo erroneamente com um tornado.
No momento da chegada, observaram-se nuvens cumulus congestus prenunciando a chegada do
furacão. O vento soprava do quadrante sul, em torno de 40 km/h (força 6), com rajadas mais
intensas. O mar apresentava ondas de até 3 metros, e o ponto máximo do estirâncio estava, em
média, a 70 metros das dunas frontais (Figura 4). Por volta das 19:50 h começou a chover, e o
vento continuava do quadrante sul, com rajadas mais intensas de aproximadamente 50 km/h (força
7). Às 21:15h, o vento atinge força 8, em torno de 60 km/h, do mesmo quadrante anterior.
Conforme a intensidade do vento aumentava, ocorria um empilhamento das águas na costa em
função do transporte de Ekman. Consequentemente, o mar avançava progressivamente, até atingir
pela primeira vez a duna frontal às 22:14 h.

Às 00:10 h do dia 28/03/2004 (domingo), os ventos atingiram força 9 (80 km/h) e a precipitação era
muito intensa. As estruturas de lazer situadas na praia (Figura 4) foram levadas pelo mar e a duna
frontal começou a ser erodida pelas constantes subidas da maré.
Às 00:36 h da madrugada de domingo (28/03/04), os ventos do quadrante sul atingiram força 10,
com velocidade em torno de 100 km/h, dando assim início ao período de danos mais intensos,
como a queda de árvores, placas, destelhamentos e o rompimento das linhas de transmissão
elétrica, com conseqüente queda de energia no município. À 01:00 h, os ventos do quadrante sul
continuavam em torno de 100 km/h (força 10), mas com rajadas de 120 km/h (força 12). Esse foi o
momento mais crítico da primeira parte do fenômeno. Houve destruição generalizada das
estruturas mais frágeis, como telhados de casas de madeira, pequenos galpões, queda de árvores
e postes, entre outros. A precipitação era intensa e aumentava com o aumento da intensidade dos
ventos. O mar havia avançado mais de 70 metros em relação ao início das observações,
ultrapassando as dunas frontais, atingindo as casas que estavam situadas na orla.
A passagem do “olho” iniciou-se à 01:15 h. Com isto, os ventos e as chuvas cessaram
abruptamente, as estrelas puderam ser vistas no céu e a temperatura aumentou
consideravelmente. Houve uma queda acentuada da pressão atmosférica, fazendo com que os
pesquisadores sentissem muita sonolência. Na calmaria, muitos moradores saíram em busca de
auxílio em virtude dos danos ocasionados pela passagem da primeira fase do Catarina, ignorando
os avisos emitidos pelas rádios de que os ventos seriam ainda mais fortes durante a segunda fase.
Às 02:48 h ocorre o fim da passagem do “olho”. Os ventos, agora provenientes do quadrante norte,
chegaram subitamente com grande intensidade, atingindo velocidade em torno de 180 km/h. O
barulho do vento era semelhante ao de uma turbina de avião, destruindo diversas estruturas
frágeis que haviam resistido à primeira fase do fenômeno, além de outras mais resistentes, como
as casas de tijolos e de alvenaria. Um orelhão de três cabines, que a equipe utilizava para entrar
em contato com a Defesa Civil, foi arrancado pela ação dos ventos. A temperatura diminuiu
drasticamente em relação ao “olho”, tanto que membros da equipe tremiam muito em função do
choque térmico. A visibilidade era muito baixa e a precipitação era extremamente forte.
Neste período, com a inversão da direção dos ventos, o transporte de Ekman agora se dava para
fora da costa, causando o rebaixamento do nível do mar. Às 03:15 h, a precipitação diminuiu
sensivelmente e os ventos contínuos do quadrante norte baixaram para aproximadamente 150
km/h. A partir deste momento, pôde-se observar um “achatamento” das ondas, com as águas
escoando para o sul, paralelamente à praia, com grande velocidade. As chuvas e os ventos
continuaram a diminuir gradativamente. Contudo, somente às 04:30 h os ventos diminuíram para
força 09, possibilitando o deslocamento de veículos que prestavam os primeiros socorros na região.
Às 05:15 h, a equipe chegou ao Corpo de Bombeiros de Araranguá, os ventos ainda continuavam
do quadrante norte com força 8, chovendo pouco. A partir das 07:00 h, a equipe deslocou-se para
outros municípios para realizar a pré-análise dos danos causados pelo Catarina.
Com base nesses dados, foi possível construir um gráfico com os valores de velocidade do vento
estimados para Bal. ( Arroio do Silva). Nota-se que ficou bem demarcado o momento da
passagem do “olho”, o que corresponde a um comportamento típico de ventos de furacão. Neste
município, o Catarina causou destruição generalizada, com a destruição parcial (destelhamentos) e
total de edificações, além da queda de árvores, postes e placas. Contudo outros municípios
catarinenses foram tão ou mais afetados, com destaque para Bal. Gaivota, Passo de Torres e São
João do Sul. Alguns municípios não tiveram tantos danos nas áreas urbanas, devido à diminuição
gradativa da intensidade dos ventos do litoral para o interior. Todavia, na área rural os danos foram
severos, pois as plantações de banana, e os cultivos de arroz e milho também foram seriamente
afetados.
National Oceanic and) para classificar os furacões com base nos danos e na intensidade

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